Ontem logo que acordei recebi a notícia de que o pai de uma amiga muito querida falecera de infarto. Na verdade, não era apenas o pai da minha amiga, era o pai da família que me "adotou" há 20 anos atrás, quando cheguei prá estudar em Pelotas. Nos fins-de-semana, ia de mala e cuia pra Charqueada São João, onde moravam. Como minha amiga já escreveu em seu blog, uma "casa que mais parecia um museu. Foi construída em 1810, tinha 33 cômodos, paredes espessas e salas que exalavam uma mistura de mofo com história". Era uma imersão ao passado, desde o piso ainda original, aos objetos pendurados nas paredes. Minha lembrança mais bacana de tudo é, sem dúvida, o banheiro, com uma banheira posicionada exatamente no meio do cômodo, com cortina plástica.
Certamente a Charqueada abrigou muitos amigos além de mim, e posso garantir que sempre fui tratada com muito carinho lá. Aos sábados, sentavam na longa mesa de refeições o pai da amiga (na cabeceira), ao lado a avó - matriarca, e toda a galera que por lá estivesse (filhas, sobrinhos, amigos). Não lembro exatamente quantos lugares havia à mesa, mas tenho a memória nítida de que os bancos eram muito longos, e éramos muitos sentados lado a lado. Naquele ambiente histórico foram gravadas as cenas da série A casa das 7 mulheres, e minha amiga Gabi fotografou muitos momentos bacanas com minha primeira máquina "profi" - uma Nikon, numa época em que nem se pensava em câmeras digitais. Quem assistiu a série ou leu o livro da gaúcha Letícia Wierzchowski poderá entender um pouco dessa minha nostalgia pelo local.
Há exatos 22 anos, por sermos (muito) altas e secas, a família nos apelidou de "girafas", nome que até hoje sou chamada quando com eles estou. A vida deu voltas; eu casei, tive minhas girafinhas, e fui morar em Brasília. Minha amiga Gabi ainda mora às margens do arroio Pelotas, também casou, e é mãe da Sofia, uma guriazinha (digo, girafinha) muito mimosa. O tempo mudou muitas coisas; ela continua com uma sensibilidade extrema, ainda não gosta de amarelo e adora melancia! Tivemos muitas divergências de opinião e estilo, mas nunca deixamos de regar nossa afinidade e amizade; sempre estivemos perto, mesmo quando distante!
Depois de viajar quase 600 km para estar perto dela, hoje um dia de preguiça, reflexão e lembranças de momentos daquela época de estudante. Quem me chamava de girafa se foi; minha amiga hj deve sentir a incapacidade de entender as tais provações da vida, que de uma hora prá outra tiram do nosso convívio quem mais amamos, e eu aproveito a quinta-feira chuvosa prá pensar nisso tudo, e no quanto minhas amigas me são especiais, principalmente por me entenderem até no silêncio! Sei que elas lêem o blog com freqüência, e saberão o quanto são importantes na minha história! Esse post é prá todas vocês, minhas amigas queridas! As antigas, as recentes, não importa; vocês me fazem uma pessoa feliz!
p.s: hj cedo recebi esse poema, com o qual finalizo esse post, e a foto é de um presente que recentemente foi habitar meu ateliê, chamada Catarina. Ambos (o poema e o presente), vindos de amigas muito queridas!
p.s: hj cedo recebi esse poema, com o qual finalizo esse post, e a foto é de um presente que recentemente foi habitar meu ateliê, chamada Catarina. Ambos (o poema e o presente), vindos de amigas muito queridas!
"Um amigo me chamou pra cuidar da dor dele, guardei a minha no bolso. E fui."
Clarice Lispector